segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

22 semanas e alguns dias...


Este fim-de-semana tivemos estágio. A grande maioria das meninas esteve cá o que tornou as coisas muito interessantes. É sempre bom treinar com todas elas e ir percebendo as qualidades e particularidades de cada uma.


Sábado pela manhã juntá-mo-nos para treinar e a previsão era fazer um treino longo e duro e foi o que aconteceu, 4 horas e ½ de treino com muitas subidas pelo meio, Cerro de S. Miguel, S.Brás de Alportel, Cova da Muda, Parises, Javali, Barranco do Velho. Cada uma ao seu ritmo lá foi fazendo as subidas, umas naturalmente mais fortes que outras mas todas com grande determinação e eu não era excepção.


Procurei não ultrapassar em muito as 170 bpm ou permanecer lá durante muito tempo. Fui encontrando o meu ritmo em cada subida e senti-me sempre confortável e por vezes até com alguma vontade de me levar ao limite, ao que consegui resistir. O Polar regista um gasto de cerca de 2000 calorias com uma média de pulsação de 144bpm.


Dou por mim a cada treino a analisar as reacções do meu corpo, a tentar perceber como é que o meu bebé está a reagir aos estímulos que lhe vou dando e até agora ainda não senti que me estivesse a exceder em circunstância alguma, pelo contrário surpreendeu-me o quão bem me senti, claro que para o final já acusava algum sinal de cansaço mas aí não era a única. Penso que todas acabámos com um bom tratamento.


O treino de domingo foi "soft", saímos com sol mas pouco tempo depois caiu uma bátega de água que nos deixou encharcadas até ao osso e fez com que encurtássemos o treino face ao desconforto que sentíamos. Ainda fizemos 55Km em cerca de 2 horas com uma passagem pela Picota e subida da Tôr em direcção a Loulé.


Foi um bom fim-de-semana. Sinto que em termos de forma física tenho vindo a manter as minhas capacidades físicas e possivelmente até a incrementar algumas nomeadamente ao nível da força já que agora carrego alguns Kg extra. Nas últimas medições que fiz durante esta semana passada, verifiquei que estou com 4 Kg a mais e cerca de 20% de massa gorda. Comecei com 54Kg e 15% de massa gorda.


A verdade é que quando tudo isto começou não pensei que fosse chegar a esta fase ainda capaz de fazer o que tenho vindo a fazer até agora e sem sentir que esteja a força-me a isso. Vou continuar sem estipular quaisquer prazos à excepção da percepção de conforto ou desconforto que isso me possa causar e estou muito ciente de que à mínima sensação de desconforto irei parar ou reduzir significativamente a minha actividade física ou pelo menos procurar alternativas viáveis. Penso que essa fase inevitavelmente chegará e estou preparada para a receber e abraçar em prol desta criança que cresce dentro de mim e que me é já tão querida.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

2º Trimestre

Ao longo do 2º trimestre tenho vindo a participar nos vários estágios que a equipa tem promovido. Tem sido muito bom para mim poder estar presente nestes estágios e participar neles. O convívio com as outras atletas e o envolvimento com a modalidade permitem-me sentir-me ainda parte deste projecto e como me tenho sentido em condições de acompanhar os treinos, ainda melhor.

Para além dos estágios mantenho entre as 12 e as 15h de treino por semana e encontro-me na 22ª semana de gestação. A barriga já se faz notar mas para já ainda não sinto desconforto nem a pedalar, nem a correr. Progressivamente tenho reduzido o trabalho abdominal pois sinto a parede abdominal muito tensa e por vezes alguma pressão de dentro para fora que me leva a querer esticar a barriga para aliviá-la.

Às 19 semanas voltei a fazer uma ecografia que me assegurou relativamente ao desenvolvimento do feto. De acordo com as medições do perímetro do crânio batia certo com o tempo de gestação, o tamanho do fémur apresentava uma semana a mais. Pude ver o coração e ouvir os batimentos cardíacos - 150bpm, deu para ver a bexiga e o estômago. Segundo a médica o aspecto do líquido amniótico parecia normal pelo que posso concluir que o desenvolvimento do feto está a decorrer normalmente.

Através do médico de família tenho feito uma ecografia por trimestre, ainda não fiz a do 2º trimestre e tenho procurado intercalar as consultas na médica particular para ir fazendo um acompanhamento mais amiúde da situação.

Informei os médicos da minha actividade física ainda que me pareça que eles não fiquem com a noção concreta do que isso significa. Algumas das opiniões médicas parecem-me algo incongruentes ou motivadas por falta de informação técnico/desportiva. Aparentemente não apresentam restrições à corrida (atletismo), quando refiro a bicicleta rapidamente o semblante muda e não discordando totalmente aconselham-me a evitar argumentando que o impacto é prejudicial e eu penso imediatamente: -Então e na corrida? Não há impacto? Também me foi apresentado o perigo do descolamento da placenta devido à posição na bicicleta no entanto em vários artigos que consultei, a bicicleta estática é aconselhada até praticamente o final da gravidez, pelo que me parece que mais uma vez não bate certo, a posição na bicicleta não parece ter interferência directa com o feto, obviamente que numa situação de grande volume abdominal o pedalar, especialmente numa posição de guiador baixo e apoio avançado, se possa tornar desconfortável e como tal deva ser evitado.

Parece-me que há falta de informação da parte da classe médica e técnicos de saúde para aconselhar e encaminhar a mulher atleta durante uma gravidez e por isso a postura mais comum é aconselhar a mulher a uma redução significativa da sua actividade, independentemente de esta ser uma atleta treinada ou não. Apesar da existência de alguns estudos na área o uso de sensos comuns de chavões, o conhecimento empírico e sabedoria popular ainda têm muita força na nossa sociedade.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Dados científicos II

Encontro um outro artigo que me parece muito interessante e de particular interesse para clarificar algumas questões que desde o início deste blog têm sido por mim levantadas. Alguma curiosidade leva-me a manter estas pesquisas mas também a necessidade de encontrar respostas para as minhas questões.

Em a “Actividade Física e Desportiva na Gravidez”, artigo publicado no livro: A Grávida. TEDESCO JJ (Editor), São Paulo, ATheneu, pp. 59-81, 2000, é apresentado o impacto da actividade física sobre indicadores fisiológicos como sendo a potência aeróbia e anaeróbia, sendo que a primeira não difere na gestante durante a gravidez e 2-6 meses após o parto enquanto que a segunda pode ser incrementada pelo condicionamento físico. Relativamente à resposta dos batimentos cardíacos fetais ao exercício materno referem que exercícios progressivos que elevem a FC materna a 170 batimentos por minuto (bpm) não induz a stress fetal durante a gravidez saudável, a resposta é um aumento aproximado de 10 a 30 bpm que no caso de exercícios de alta intensidade ou mesmo extenuantes se mantém durante aproximadamente 30 minutos.

A temperatura corporal materna aumenta durante a prática desportiva levando a que a do feto aumente também pelo que poderá ser um motivo de preocupação e não deverá ser descurada esta parte.

O exercício extenuante terá efeitos directos no ganho de peso materno, no tamanho e área de superfície da placenta, peso fetal e desenvolvimento dos órgãos fetais. Apesar de escassas informações na área, referem que a prática de exercício físico extenuante durante a gravidez tem efeitos directos na redução do peso do feto no nascimento (fetos mais pequenos) e atraso do crescimento intra-uterino.

O fluxo sanguíneo uterino pode ser comprometido durante o exercício no entanto os autores referem que para chegar a hipoxia ou asfixia fetal, a diminuição desse fluxo deveria ser maior que 50%.

Neste, é referido que no caso de atletas de elite que mantiveram a sua actividade física durante a gravidez revelaram geralmente resultados favoráveis se bem que estas representem uma população restrita com grande tolerância ao esforço físico e acostumadas a intensidades de treino elevadas o que poderá ser um risco na medida em que podem desprezar sinais de sofrimento corporal continuando o exercício apesar do desconforto.

No artigo é feita referência aos benefícios psicológicos e sociais resultantes da actividade física regular na gestante o que me parece uma questão de grande interesse e que não deverá ser descurada, nomeadamente:

- Melhoria da auto-imagem;

- Melhoria da auto-estima;

- Melhoria da sensação de bem-estar;

- Diminuição da sensação de isolamento social;

- Diminuição da ansiedade e stress;

- Diminuição do risco de depressão.

O que no caso da mulher atleta que deixe subitamente a sua prática se torna mais relevante ainda na medida em que se vê impossibilitada de continuar a sua actividade desportiva regular; com tempo disponível que normalmente dedicava à sua prática; abdicando da companhia daqueles que a acompanhavam nos seus treinos, tudo isto associado à incerteza do futuro.

Neste artigo é referido ainda o recomeço da actividade física após o parto sendo que o mesmo vai depender da condição física da mulher que será tanto maior quanto menor o tempo que esteve afastada, o estado de saúde geral da mulher e das metas por ela propostas. A atleta/mãe pode retornar a actividades físicas leves já na primeira semana após o parto e ir aumentando progressivamente a sua intensidade.

A lactação não é incompatível com a actividade física moderada e ainda que se verifiquem pequenos mas significativos aumentos de lactato no leite materno o mesmo não tem relação directa com a aceitação do leite por parte do bebé, o volume e a qualidade da sua amamentação, conquanto a mãe não descure a sua hidratação e alimentação.

Uma nota importante relaciona-se com as questões do aborto espontâneo e o apresentado refere não existirem dados científicos que sugiram que qualquer nível de actividade física durante a gravidez possa induzir o aborto espontâneo assim como também não existem diferenças na incidência de aborto entre grávidas atletas e não atletas.

Para esclarecimentos mais detalhados, sugiro a consulta directa do artigo (título do artigo).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dados científicos

Continuo as minhas buscas. Ainda que confiante quero assegurar-me que estou a fazer as coisas correctamente e que não descuro questões importantes que poderão ser prejudiciais para o bom desenvolvimento desta criança que carrego dentro de mim.

No artigo entitulado “Effects of intense training during and after pregnancy in top-level athletes” são investigados os efeitos do treino intensivo durante e após a gravidez em atletas de topo, este estudo foi realizado na Faculdade de Medicina, Universidade de Olso, Noruega e publicado no Jornal de Medicina e Ciências em Desporto Escandinavo e consiste em: 41 atletas de topo foram acompanhadas desde as 17 semanas de gestação até às 12 semanas após o parto e foi-lhes monitorizada a intensidade, duração e frequência dos exercícios através do controle dos batimentos cardíacos, dos níveis de concentração de ácido láctico e do consumo de oxigénio em e treinos de características maximais e sub-maximais. Estas foram sujeitas a um programa intensivo de treino que consistia em treino de força 1 vez por semana orientado para os principais grupos musculares do corpo; vigorosos exercícios aeróbios sendo 2 deles de treino intervalado (170-180bpm); dois treinos de endurance com uma durabilidade 1.5h ou 2.5h entre os 120 - 140bpm.

As conclusões a que chegaram mostram que mulheres bem treinadas podem beneficiar substancialmente do treino de volume elevado, durante uma gravidez sem complicações o que poderá facilitar o rápido retorno às competições e a uma vida fisicamente activa após o parto.

De salientar que uma das hipóteses levantadas e comprovadas assenta precisamente no facto de treino intenso durante a gravidez em mulheres inicialmente treinadas não apresentar risco para a mãe e o feto.

Referem um pequeno mas significativo aumento do VO2máx após a gravidez e um gradual aumento do pulso em repouso o que se apresenta normal e característico da gravidez. Concluem ainda que elevados níveis de condição física são mantidos durante a gravidez quando mantido treino vigoroso.

As oscilações da percentagem de gordura corporal destas mulheres variou entre os 20.4 aos 22.9 e o peso entre os 6 e os 9 kg. Da amostra apresentada várias foram as mulheres que se exercitaram até ao dia anterior ao parto.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Entre outros... os treinos longos.

Por norma ao domingo, aproveita-se o facto de haver mais disponibilidade e faz-se um treino mais longo e é o que tem acontecido nos últimos domingos na companhia dos meus companheiros e companheiras de treino. Entre 3 a 4 horas realizamos na ordem dos 100km, as médias oscilam entre os 27 e os 30 Km/h dependendo do percurso escolhido (com mais ou menos subidas) sem grandes sobressaltos apesar de por vezes ter-se que apertar o ritmo dependendo da companhia e da vontade de os querer continuar a acompanhar já que às vezes trazemos os “motinhas” ou "locomotivas" (como são chamados na gíria do ciclismo) a puxar à frente e, ou se aperta o ritmo ou se fica para trás.

Nesta fase não tenho encontrado dificuldade nenhuma em acompanhar os treinos, sinto-me reagir bem à intensidade do treino, à posição na bicicleta (se bem que já tenha feito pequenas alterações na biblicleta por forma a conseguir uma posição mai confortável, passei 3 anilhas para baixo do guiador para o elevar ligeiramente), aos ataques quando ocorrem e à excepção de maior sensibilidade na bexiga (já não consigo fazer um treino destes sem parar pelo menos 1 vez) não encontro nenhuma dificuldade em continuar, vou monitorizando a pulsação e sinto-me confortável mesmo em intensidades elevadas (se acontecem de forma progressiva), mudanças bruscas de intensidade é que surtem maior efeito em mim e deixam-me ofegante mas depois disso permito-me uma recuperação adequada e tudo volta ao normal. De referir que me sentia ofegante com mais frequência no 1º trimestre o que acontecia assim que passava a um nível 3 de intensidade de esforço, o mesmo já não acontece agora.

Tenho sido cautelosa no que respeita à hidratação e alimentação durante o treino e a verdade é que não me sinto particularmente cansada por ter treinado. Pelo menos não mais do que me sentiria em circunstâncias idênticas não estando grávida.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

1º Trimestre

A informação generalizada acerca do 1º trimestre numa gravidez é que existe um elevado risco de aborto, no entanto muitas são as mulheres que só chegam a saber que estão grávidas no 2º e até 3º mês de gestação e se pensarmos em atletas que podem ter os seus ciclos menstruais alterados isso é ainda mais provável, como tal e até o saberem, levam a sua vida normal. Efectivamente existe um elevado número de abortos no primeiro trimestre normalmente associados a mal formações ou gravidezes que não estavam a desenrolar-se convenientemente mas não directamente relacionados com a prática desportiva.

O meu historial leva a preocupações acrescidas, pela idade, que por ser acima dos 35 anos leva a que esta gravidez seja considerada uma gravidez de risco o que eu considero quase que ofensivo pois não é tido em conta o estilo de vida das pessoas e sendo atleta encontro-me a competir lado a lado com outras atletas 10 a 15 anos mais novas que eu e em momento algum considerei que a idade fosse um problema, considero que devido ao treino constante o meu corpo está melhor preparado para passar por este processo que o de muitas outras mulheres muito mais novas do que eu assim como está muito mais habituado a lidar com o desconforto provocado por cargas de treino elevadas e situações de stress físico, psicológico e emocional. Por outro lado já passei por um processo de gravidez 2 anos atrás que não foi viável e aos 2 meses abortei o que, segundo os médicos, requer maior cautela.

Às 5 e 6 semanas de gravidez, participei em 2 maratonas de BTT sem pretensões competitivas, respectivamente Monchique 60 kms de dificuldade elevada)e Vale de Silves .

Pondero a minha participação no primeiro estágio da equipa de ciclismo que pertenço. Faço várias buscas na net com o intuito de descobrir outros casos semelhantes ao meu mas não há muita coisa e, ligado ao ciclismo, não descubro mesmo nada.

Percebi que outras mulheres já tinham passado pelos mesmos momentos de ansiedade através destas consultas:

http://clubedecorridaabodytech.blogspot.com/2009/03/corrida-durante-gravidez.html

http://www.copacabanarunners.net/gravidez.html

http://demaeparamae.pt/artigos/que-actividades-fisicas-evitar-durante-gravidez

Uns sites são mais cautelosos que outros, mais científicos, mais bem fundamentados e, foram estas buscas que me permitiram ir construindo dentro de mim o conceito do que seria estar grávida e ainda assim manter a minha prática desportiva se não para melhoria das minhas prestações físicas pelo menos para a sua manutenção já que o período competitivo estava “arruinado”. As provas teriam início em finais de Março e por essa altura eu já estaria com 6 meses.

Por esta altura pergunto-me: Até que ponto devo continuar a participar nos treinos? Será seguro? Há sempre o risco de quedas. Não tenho por hábito procurar problemas onde eles não existem e nunca me preparei para um treino ou uma prova a pensar que poderia ter algum acidente da mesma maneira que não me levanto da cama de manhã a pensar que alguma coisa de grave me pode vir a acontecer e foi essa a postura que procurei preservar.

Procuro informar-me o mais possível acerca deste assunto, treino na gravidez, não só por mim, pelo meu bebé e pela preocupação que isso me causava, já que não queria estar a fazer nada de errado, mas não só. As outras pessoas começavam a exigir isso de mim.

Desde o primeiro momento em que divulguei que estava grávida a postura imediata e salvo raras excepções, foi recriminar a minha prática desportiva e como tal aconselharam-me a abdicar dela radicalmente. Até um certo ponto concordava com essa postura e sabia que teria que reduzir mas a minha ideia nunca foi o corte radical e precisava que me fundamentassem melhor essa opinião para que me conseguissem convencer dela.

Não encontrei muita informação destinada a “atletas” que engravidam e o que é que podem e devem continuar a fazer Info. Penso que no panorama nacional não há muitos relatos de atletas que continuaram a sê-lo durante e após a gravidez. Na grande maioria dos casos as mulheres atletas que engravidam retiram-se temporariamente para se dedicarem a essa causa e voltam anos depois ou pelo menos algum tempo após o nascimento da criança, o que provavelmente faz todo o sentido na cabeça da maioria das pessoas mas que na minha, talvez pelo avançado da idade, por já não contar com tantos anos assim para dedicar à competição, por achar que se decair muito em termos físicos a ascensão vai ser mais trabalhosa e por ser EU, não achava que essa fosse a opção para mim.

Há realmente muita informação destinada à grande maioria das mulheres que pretendam manter-se activas durante a gravidez, continuando com alguma prática desportiva. Agradou-me ver que, na grande generalidade dos casos, a mulher é aconselhada a manter uma prática desportiva regular a uma intensidade moderada e isso podemos ver em vários sites da especialidade já apresentados anteriormente. A frequência cardíaca de 140bpm é apresentada como o limite superior a que a mulher deve treinar, indiscriminadamente se falamos de uma mulher habituada a treino constante e intenso e a regimes competitivos elevados, se uma mulher que frequenta um ginásio 2 a 3 vezes por semana e como tal até se pode considerar em forma, se uma sedentária que não se lembra da última vez que realizou qualquer tipo de actividade física, aparentemente, partimos todas do mesmo patamar o qual eu não concordo.

Aquilo que leio em Os super poderes das mães, reforça a minha confiança e convenço-me que tudo irá correr bem e se não correr é porque, efectivamente, não tinha que ser já que eu sou uma mulher saudável, treinada e não há razão para que não possa continuar a ser.

Sei que ao nível internacional e em modalidades como o atletismo, o sky e até mesmo o basquetebol, existem casos de mulheres que mantiveram a competição ao longo da gravidez, algumas por necessidade ou medo de revelarem que estavam grávidas, outras por convicção.

Às 8 semanas participo no estágio a 100%. Os ânimos estão ao rubro, todos muito entusiasmados, eu inclusive. Foram 4 dias de treinos, acompanhados de muita chuva, a fase é de pré-treino ou fase preparatória em que os regimes de intensidade são baixos, trabalha-se muita cadência e faz-se algum trabalho de preparação física geral.

Ainda que com algumas dúvidas, decidi seguir o meu instinto e os conhecimentos que tenho como licenciada em Educação Física e das formações que ao longo dos anos tenho vindo a fazer nomeadamente o curso de treinadores de ciclismo -Nível I e a minha experiência como pessoa e atleta e continuei os treinos tendo em conta que me sentia bem, a intensidade era moderada e o volume da barriga por esta altura ainda não era um entrave.

As aulas no ginásio continuaram ao longo das semanas, 2 aulas 2 vezes por semana, uma de localizada com cardio e uma de cycle e 1 vez por semana uma aula de hidroginástica; os treinos de ciclismo continuaram, uns mais específicos que outros com intensidades variáveis mas que por vezes podiam ir aos 80-85% de intensidade se estivermos a falar de um treino de séries ou subidas, especialmente se for na companhia da minha companheira de treinos e colega de equipa Celina Carpinteiro; ao fim de semana, num dos dias, um treino mais longo de 3 a 4 horas, cerca de 100Km, de preferência em grupo, com intensidades muito variáveis; a corrida continuou, 1 a 2 vezes por semana 30 a 40 minutos com pulsações médias entre as 135 e as 145bpm, se na passadeira chego a correr a 11km/h; o BTT continuou até cerca das 16 semanas e depois só numa de passeio mais por questões de segurança e porque tendo chovido muito o piso estava sempre muito escorregadio. Às 12 semanas, Tróia- Sagres, era para mim um desafio que, ponderados os riscos e as limitações, decidi fazer. Preparei-me bem com alimento e água suficiente para a exigência do percurso que só o é mais pela distância que por outra coisa, se bem que, a intensidade a que se realize seja aqui determinante. Éramos um grupo de 4 e todos me encorajaram muito, tínhamos carro de apoio e eu ia dizendo a mim própria que poderia sempre ir para o carro se não me sentisse bem por algum motivo mas o mesmo não aconteceu, senti-me muitíssimo bem, o grupo cresceu na zona de Sines e tornou-se mais desafiante às prestações físicas de todos. Percorremos cerca de 208Kms em 6h e 20’ e chegámos todos juntos ao final de mais este desafio. A verdade é que para um indivíduo não treinado 1 hora de treino, se realizados a uma intensidade não adequada às suas capacidades, poderá ser muito mais agressivo do que foi para mim estas 6h e qualquer coisa. Não que eu seja uma super mulher ou que me considere como tal mas simplesmente porque estou fisicamente treinada para isso.

Eu por esta altura já falava com a minha “alcagoita” e tentava perceber como é que ela se sentia depois destes kms todos a andar de bicicleta… ela não me respondeu J devia estar a descansar.

Época 2010

Pensar na época seguinte era motivo de muita alegria e de muitas expectativas. O desafio que tinha estipulado a mim própria animava-me a manter os treinos e a investir na pré-época. A perspectiva de um calendário de provas idêntico ou até mesmo mais completo que o do ano anterior era um panorama que me entusiasmava.

Ainda estava envolvida com a finalização da minha tese mas sabia que o esforço de a terminar me seria vantajoso durante a época que se seguia pois esse seria um capítulo encerrado na minha vida o que me permitiria ter mais tempo disponível para treinar. Terminei-a, entreguei-a e defendi-a em Dezembro de 2009.

Os preparativos para a época começam mais cedo. O primeiro estágio estava previsto para final de Novembro e por esta altura eu já tinha a certeza de que a minha participação na equipa e toda a época competitiva estavam comprometidas, eu estava grávida.

Apesar de muito feliz com a notícia, tendo em conta que era um desejo meu algo adiado, fui assolada temporariamente por um sentimento de alguma injustiça da vida para comigo. Agora não era a melhor altura! Eu tinha projectos e expectativas elevadas sobre a época desportiva que se avizinhava mas, se para esses projectos a idade era um factor determinante, para este, o da maternidade, também o era seguramente, como tal, depois de assimilada a ideia e convencendo-me a mim própria que esta seria mais uma fase e que passando teria outras oportunidade de investir na minha carreira como ciclista. Passei a desfrutar do meu estado tanto quanto me era possível numa fase tão embrionária.

Inevitavelmente tive que reconsiderar a minha participação no projecto da equipa de ciclismo, se não como uma das atletas com hipóteses de contribuir para que a equipa fosse mais uma vez bem sucedida, pelo menos que me fosse possível acompanhar os estágios, os treinos e até mesmo as provas, ainda que dos bastidores. Na semana antes do estágio ganho coragem para dar a notícia ao director da equipa que, apesar de surpreendido com a notícia e talvez algo desiludido por não poder contar comigo no pelotão (ainda que não o tenha demonstrado), me congratulou e apoiou a minha participação nesse primeiro estágio. E foi o que aconteceu.

Época 2009

Intensa, dura mas altamente gratificante é a forma que encontro para a descrever.


Outubro de 2008 sou convidada a integrar uma equipa de ciclismo feminina que estava a iniciar e que se propunha avançar com projectos arrojados, no meu entender de “caloira” nestas andanças da estrada. Até à data tinha participado apenas numa prova de ciclismo de estrada e não me tendo corrido tão mal assim também não ficou para a história, apesar de me ter deixado um certo bichinho de vontade e curiosidade de saber o que seria estar mais dedicada aquela causa.

Nas épocas anteriores e apenas por duas, estive federada em BTT e participei em praticamente todas as Taças de Maratonas e Campeonatos Nacionais de Maratonas para além de outras maratonas/passeios mais locais com resultados que não sendo de envergonhar ninguém, tendo em conta o panorama nacional, também nunca foram nada de especial. Simultaneamente, na época anterior, tinha re-iniciado a minha participação nas Corridas de Aventura que motivado por uma excelente participação na Prova Portugal XPD Race 2007 (prova de 4 dias de competição non-stop com etapas de BTT, Trikke, Coastering, Kayak, Patins em Linha, Pedestres) no qual conseguimos um 2º lugar na geral o que nos levou a decidir realizar as provas da taça ao longo de 2008 e Campeonato Nacional em Elites Mistas . Vencemos ambos.

Foi um ano muito gratificante no qual a vontade de treinar era muita já que queríamos manter o nível e quem sabe dar o salto para a internacionalização da equipa se bem que isso já significasse muito mais treino e disponibilidade para tal. Na época 2008 ainda realizámos o Portugal XPD Race 2008 e apesar de não ter corrido tão bem como o anterior, foi uma experiência única de desafio pessoal, psicológico e físico.

Ainda que comprometida com a equipa de Desporto Aventura, abracei o projecto do ciclismo com convicção e desde sempre apoiada pelos outros elementos da equipa de aventura que sempre me encorajaram a avançar ainda que isso comprometesse a minha participação em algumas das provas da taça. Penso que perceberam o quão entusiasmada estava com este novo projecto e de certa forma até lisonjeada por me ter sido feito o convite. Pessoalmente, estava também algo céptica sobre as minhas capacidades pessoais e tendo em conta a minha idade, prestes a fazer 37 anos, sempre pensei que o caminho que tinha pela frente, nas lides competitivas, não seria tão longo assim mas, como me é característico a decisão foi aproveitar enquanto desse e pudesse e me quisessem por lá… E foi o que fiz. Paralelamente com o mestrado que estava a realizar na Universidade de Huelva que me obrigava a viagens regulares 3 a 4 vezes por semana após o trabalho na escola.

A época ligada ao desporto aventura ficou realmente comprometida mas ainda assim a equipa vence a Taça de Portugal de Corridas de Aventura 2008 mesmo sem ter participado em todas as provas e não vence o Campeonato Nacional provavelmente apenas porque não compareceu já que nessa mesma altura eu, elemento feminino da equipa, andava pelas bandas de França na dita Volta à França Feminina.

A estrada foi uma lufada de ar fresco. Treinos acompanhada, estágios, convívio com atletas dedicadas, viagens um pouco por todo o lado, provas com um nível competitivo e uma adesão nada comparável com as que temos ao nível nacional e essencialmente, sentir-me parte de um projecto conjunto em que outros, para além de mim, se preocupavam com as minhas prestações desportivas.

Costa Etrusca-Itália, 3 dias a participar em competições com o pelotão internacional. Subitamente e pela primeira vez a correr num pelotão para cima de uma centena de mulheres, foi o baptismo melhor que eu podia ter tido. Em nenhum dos dias consegui terminar (etapas sempre acima dos 100kms a umas médias por hora alucinantes), mas o pouco tempo que me foi permitido andar lá no meio da confusão permitiu-me perceber o quão longe estava daquele nível e simultaneamente, o quanto queria lá chegar… Foi um autêntico despertar para um realidade que me fascinou. A descarga de adrenalina resultante intoxicou-me e deu-me todos os motivos que precisava para realizar alguns sacrifícios pessoais que uma dedicação ao desporto a este nível exige.

Seguiram-se provas nacionais, Copa de Espanha, mais provas nacionais, Emakumeen Bira – Pais Basco, La Grande Boucle Féminine Internationale – França, Campeonato Nacional de Estrada. Provas com os veteranos (Grande Prémio Auto Europa/Feira das Vindimas)e com os Juniores.

Ao longo do ano, com alguma “ginástica” de horários, muita dedicação e inevitavelmente alguns sacrifícios que me permitia conciliar todos os compromissos que tinha assumido, os resultados foram surgindo. Fui sentindo a minha confiança reforçada e pouco a pouco fui-me convencendo que ainda estava bem a tempo de me debater nas lides do ciclismo de estrada não só ao nível nacional mas também internacional.

A época termina, a equipa fica em primeiro lugar na taça nacional e no campeonato nacional nos quais assegurou o pódio em ambos sendo que a mim me coube o 3º Lugar. Por esta altura já estava totalmente convencida que era este o caminho que queria seguir e, se dividida entre compromissos tinha conseguido estes resultados, como seria com uma dedicação exclusiva? Estava disposta a pôr-me à prova.