Intensa, dura mas altamente gratificante é a forma que encontro para a descrever.
Outubro de 2008 sou convidada a integrar uma equipa de ciclismo feminina que estava a iniciar e que se propunha avançar com projectos arrojados, no meu entender de “caloira” nestas andanças da estrada. Até à data tinha participado apenas numa prova de ciclismo de estrada e não me tendo corrido tão mal assim também não ficou para a história, apesar de me ter deixado um certo bichinho de vontade e curiosidade de saber o que seria estar mais dedicada aquela causa.
Nas épocas anteriores e apenas por duas, estive federada em BTT e participei em praticamente todas as Taças de Maratonas e Campeonatos Nacionais de Maratonas para além de outras maratonas/passeios mais locais com resultados que não sendo de envergonhar ninguém, tendo em conta o panorama nacional, também nunca foram nada de especial. Simultaneamente, na época anterior, tinha re-iniciado a minha participação nas Corridas de Aventura que motivado por uma excelente participação na Prova Portugal XPD Race 2007 (prova de 4 dias de competição non-stop com etapas de BTT, Trikke, Coastering, Kayak, Patins em Linha, Pedestres) no qual conseguimos um 2º lugar na geral o que nos levou a decidir realizar as provas da taça ao longo de 2008 e Campeonato Nacional em Elites Mistas . Vencemos ambos.
Foi um ano muito gratificante no qual a vontade de treinar era muita já que queríamos manter o nível e quem sabe dar o salto para a internacionalização da equipa se bem que isso já significasse muito mais treino e disponibilidade para tal. Na época 2008 ainda realizámos o Portugal XPD Race 2008 e apesar de não ter corrido tão bem como o anterior, foi uma experiência única de desafio pessoal, psicológico e físico.
Ainda que comprometida com a equipa de Desporto Aventura, abracei o projecto do ciclismo com convicção e desde sempre apoiada pelos outros elementos da equipa de aventura que sempre me encorajaram a avançar ainda que isso comprometesse a minha participação em algumas das provas da taça. Penso que perceberam o quão entusiasmada estava com este novo projecto e de certa forma até lisonjeada por me ter sido feito o convite. Pessoalmente, estava também algo céptica sobre as minhas capacidades pessoais e tendo em conta a minha idade, prestes a fazer 37 anos, sempre pensei que o caminho que tinha pela frente, nas lides competitivas, não seria tão longo assim mas, como me é característico a decisão foi aproveitar enquanto desse e pudesse e me quisessem por lá… E foi o que fiz. Paralelamente com o mestrado que estava a realizar na Universidade de Huelva que me obrigava a viagens regulares 3 a 4 vezes por semana após o trabalho na escola.
A época ligada ao desporto aventura ficou realmente comprometida mas ainda assim a equipa vence a Taça de Portugal de Corridas de Aventura 2008 mesmo sem ter participado em todas as provas e não vence o Campeonato Nacional provavelmente apenas porque não compareceu já que nessa mesma altura eu, elemento feminino da equipa, andava pelas bandas de França na dita Volta à França Feminina.
A estrada foi uma lufada de ar fresco. Treinos acompanhada, estágios, convívio com atletas dedicadas, viagens um pouco por todo o lado, provas com um nível competitivo e uma adesão nada comparável com as que temos ao nível nacional e essencialmente, sentir-me parte de um projecto conjunto em que outros, para além de mim, se preocupavam com as minhas prestações desportivas.
Costa Etrusca-Itália, 3 dias a participar em competições com o pelotão internacional. Subitamente e pela primeira vez a correr num pelotão para cima de uma centena de mulheres, foi o baptismo melhor que eu podia ter tido. Em nenhum dos dias consegui terminar (etapas sempre acima dos 100kms a umas médias por hora alucinantes), mas o pouco tempo que me foi permitido andar lá no meio da confusão permitiu-me perceber o quão longe estava daquele nível e simultaneamente, o quanto queria lá chegar… Foi um autêntico despertar para um realidade que me fascinou. A descarga de adrenalina resultante intoxicou-me e deu-me todos os motivos que precisava para realizar alguns sacrifícios pessoais que uma dedicação ao desporto a este nível exige.
Seguiram-se provas nacionais, Copa de Espanha, mais provas nacionais, Emakumeen Bira – Pais Basco, La Grande Boucle Féminine Internationale – França, Campeonato Nacional de Estrada. Provas com os veteranos (Grande Prémio Auto Europa/Feira das Vindimas)e com os Juniores.
Ao longo do ano, com alguma “ginástica” de horários, muita dedicação e inevitavelmente alguns sacrifícios que me permitia conciliar todos os compromissos que tinha assumido, os resultados foram surgindo. Fui sentindo a minha confiança reforçada e pouco a pouco fui-me convencendo que ainda estava bem a tempo de me debater nas lides do ciclismo de estrada não só ao nível nacional mas também internacional.
A época termina, a equipa fica em primeiro lugar na taça nacional e no campeonato nacional nos quais assegurou o pódio em ambos sendo que a mim me coube o 3º Lugar. Por esta altura já estava totalmente convencida que era este o caminho que queria seguir e, se dividida entre compromissos tinha conseguido estes resultados, como seria com uma dedicação exclusiva? Estava disposta a pôr-me à prova.
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