A informação generalizada acerca do 1º trimestre numa gravidez é que existe um elevado risco de aborto, no entanto muitas são as mulheres que só chegam a saber que estão grávidas no 2º e até 3º mês de gestação e se pensarmos em atletas que podem ter os seus ciclos menstruais alterados isso é ainda mais provável, como tal e até o saberem, levam a sua vida normal. Efectivamente existe um elevado número de abortos no primeiro trimestre normalmente associados a mal formações ou gravidezes que não estavam a desenrolar-se convenientemente mas não directamente relacionados com a prática desportiva.
O meu historial leva a preocupações acrescidas, pela idade, que por ser acima dos 35 anos leva a que esta gravidez seja considerada uma gravidez de risco o que eu considero quase que ofensivo pois não é tido em conta o estilo de vida das pessoas e sendo atleta encontro-me a competir lado a lado com outras atletas 10 a 15 anos mais novas que eu e em momento algum considerei que a idade fosse um problema, considero que devido ao treino constante o meu corpo está melhor preparado para passar por este processo que o de muitas outras mulheres muito mais novas do que eu assim como está muito mais habituado a lidar com o desconforto provocado por cargas de treino elevadas e situações de stress físico, psicológico e emocional. Por outro lado já passei por um processo de gravidez 2 anos atrás que não foi viável e aos 2 meses abortei o que, segundo os médicos, requer maior cautela.
Às 5 e 6 semanas de gravidez, participei em 2 maratonas de BTT sem pretensões competitivas, respectivamente Monchique 60 kms de dificuldade elevada)e Vale de Silves .
Pondero a minha participação no primeiro estágio da equipa de ciclismo que pertenço. Faço várias buscas na net com o intuito de descobrir outros casos semelhantes ao meu mas não há muita coisa e, ligado ao ciclismo, não descubro mesmo nada.
Percebi que outras mulheres já tinham passado pelos mesmos momentos de ansiedade através destas consultas:
http://clubedecorridaabodytech.blogspot.com/2009/03/corrida-durante-gravidez.html
http://www.copacabanarunners.net/gravidez.html
http://demaeparamae.pt/artigos/que-actividades-fisicas-evitar-durante-gravidez
Uns sites são mais cautelosos que outros, mais científicos, mais bem fundamentados e, foram estas buscas que me permitiram ir construindo dentro de mim o conceito do que seria estar grávida e ainda assim manter a minha prática desportiva se não para melhoria das minhas prestações físicas pelo menos para a sua manutenção já que o período competitivo estava “arruinado”. As provas teriam início em finais de Março e por essa altura eu já estaria com 6 meses.
Por esta altura pergunto-me: Até que ponto devo continuar a participar nos treinos? Será seguro? Há sempre o risco de quedas. Não tenho por hábito procurar problemas onde eles não existem e nunca me preparei para um treino ou uma prova a pensar que poderia ter algum acidente da mesma maneira que não me levanto da cama de manhã a pensar que alguma coisa de grave me pode vir a acontecer e foi essa a postura que procurei preservar.
Procuro informar-me o mais possível acerca deste assunto, treino na gravidez, não só por mim, pelo meu bebé e pela preocupação que isso me causava, já que não queria estar a fazer nada de errado, mas não só. As outras pessoas começavam a exigir isso de mim.
Desde o primeiro momento em que divulguei que estava grávida a postura imediata e salvo raras excepções, foi recriminar a minha prática desportiva e como tal aconselharam-me a abdicar dela radicalmente. Até um certo ponto concordava com essa postura e sabia que teria que reduzir mas a minha ideia nunca foi o corte radical e precisava que me fundamentassem melhor essa opinião para que me conseguissem convencer dela.
Não encontrei muita informação destinada a “atletas” que engravidam e o que é que podem e devem continuar a fazer Info. Penso que no panorama nacional não há muitos relatos de atletas que continuaram a sê-lo durante e após a gravidez. Na grande maioria dos casos as mulheres atletas que engravidam retiram-se temporariamente para se dedicarem a essa causa e voltam anos depois ou pelo menos algum tempo após o nascimento da criança, o que provavelmente faz todo o sentido na cabeça da maioria das pessoas mas que na minha, talvez pelo avançado da idade, por já não contar com tantos anos assim para dedicar à competição, por achar que se decair muito em termos físicos a ascensão vai ser mais trabalhosa e por ser EU, não achava que essa fosse a opção para mim.
Há realmente muita informação destinada à grande maioria das mulheres que pretendam manter-se activas durante a gravidez, continuando com alguma prática desportiva. Agradou-me ver que, na grande generalidade dos casos, a mulher é aconselhada a manter uma prática desportiva regular a uma intensidade moderada e isso podemos ver em vários sites da especialidade já apresentados anteriormente. A frequência cardíaca de 140bpm é apresentada como o limite superior a que a mulher deve treinar, indiscriminadamente se falamos de uma mulher habituada a treino constante e intenso e a regimes competitivos elevados, se uma mulher que frequenta um ginásio 2 a 3 vezes por semana e como tal até se pode considerar em forma, se uma sedentária que não se lembra da última vez que realizou qualquer tipo de actividade física, aparentemente, partimos todas do mesmo patamar o qual eu não concordo.
Aquilo que leio em Os super poderes das mães, reforça a minha confiança e convenço-me que tudo irá correr bem e se não correr é porque, efectivamente, não tinha que ser já que eu sou uma mulher saudável, treinada e não há razão para que não possa continuar a ser.
Sei que ao nível internacional e em modalidades como o atletismo, o sky e até mesmo o basquetebol, existem casos de mulheres que mantiveram a competição ao longo da gravidez, algumas por necessidade ou medo de revelarem que estavam grávidas, outras por convicção.
Às 8 semanas participo no estágio a 100%. Os ânimos estão ao rubro, todos muito entusiasmados, eu inclusive. Foram 4 dias de treinos, acompanhados de muita chuva, a fase é de pré-treino ou fase preparatória em que os regimes de intensidade são baixos, trabalha-se muita cadência e faz-se algum trabalho de preparação física geral.
Ainda que com algumas dúvidas, decidi seguir o meu instinto e os conhecimentos que tenho como licenciada em Educação Física e das formações que ao longo dos anos tenho vindo a fazer nomeadamente o curso de treinadores de ciclismo -Nível I e a minha experiência como pessoa e atleta e continuei os treinos tendo em conta que me sentia bem, a intensidade era moderada e o volume da barriga por esta altura ainda não era um entrave.
As aulas no ginásio continuaram ao longo das semanas, 2 aulas 2 vezes por semana, uma de localizada com cardio e uma de cycle e 1 vez por semana uma aula de hidroginástica; os treinos de ciclismo continuaram, uns mais específicos que outros com intensidades variáveis mas que por vezes podiam ir aos 80-85% de intensidade se estivermos a falar de um treino de séries ou subidas, especialmente se for na companhia da minha companheira de treinos e colega de equipa Celina Carpinteiro; ao fim de semana, num dos dias, um treino mais longo de 3 a 4 horas, cerca de 100Km, de preferência em grupo, com intensidades muito variáveis; a corrida continuou, 1 a 2 vezes por semana 30 a 40 minutos com pulsações médias entre as 135 e as 145bpm, se na passadeira chego a correr a 11km/h; o BTT continuou até cerca das 16 semanas e depois só numa de passeio mais por questões de segurança e porque tendo chovido muito o piso estava sempre muito escorregadio. Às 12 semanas, Tróia- Sagres, era para mim um desafio que, ponderados os riscos e as limitações, decidi fazer. Preparei-me bem com alimento e água suficiente para a exigência do percurso que só o é mais pela distância que por outra coisa, se bem que, a intensidade a que se realize seja aqui determinante. Éramos um grupo de 4 e todos me encorajaram muito, tínhamos carro de apoio e eu ia dizendo a mim própria que poderia sempre ir para o carro se não me sentisse bem por algum motivo mas o mesmo não aconteceu, senti-me muitíssimo bem, o grupo cresceu na zona de Sines e tornou-se mais desafiante às prestações físicas de todos. Percorremos cerca de 208Kms em 6h e 20’ e chegámos todos juntos ao final de mais este desafio. A verdade é que para um indivíduo não treinado 1 hora de treino, se realizados a uma intensidade não adequada às suas capacidades, poderá ser muito mais agressivo do que foi para mim estas 6h e qualquer coisa. Não que eu seja uma super mulher ou que me considere como tal mas simplesmente porque estou fisicamente treinada para isso.
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ResponderEliminarPois, pois! Isso de fazeres experimentação científico-desportiva com o teu corpinho... Vê lá se a "alcagoita" se ressente, olha que ela ainda não pode queixar-se, mesmo que esteja a ficar viciada em hormonas inadequadas... Por algum motivo a progesterona é a hormona base do processo gestacional e tende a acalmar os processos catabólicos, que pelo contrário ocorrem bastante nas actividades desportivas aeróbicas intensas! Mas tens alguma razão, os animais não alteram tanto assim a sua etologia pelo facto de estarem à espera de filhos, e se tu estás habituada, será um pouco como com os animais... Podes é gerar um ser adicto à adrenalina e ao ácido láctico, eheheheh... Sorte e cabeça no lugar, Dra. Cuidado com o sol na eira e água no nabal, não queremos perder essa criança! Beijocas...
ResponderEliminarOlá Rute! Desejo-te as maiores felicidades para a tua gravidez. No que puder ajudar, já sabes que poderás contar comigo.
ResponderEliminarNos primórdios do meu "estado de graça" investiguei bastante literatura relacionada com Gravidez/Alpinismo(actividade que praticAVA com muita frequência). Como já te disse, a Alison Hargreaves, Alpinista de topo, escalou a face norte do Eiger (uma das montanhas da triologia dos Alpes) grávida de 6 meses. Na altura provocou grande burburinho na comunidade montanheira, mas a gravidez vingou sem problemas (aliás a criança ainda existe, a mãe é que morreu 2 anos depois de parir, após a ascensão do K2). O lema dela poderia ser: 'Just listen to your body and don't fall in a crevasse!'”
Eu escolhi abandonar/adiar o "Projecto 11 cumes nos Alpes" porque não queria pôr em causa a minha gravidez, pois não sabia como seria a adaptação no meu "novo" corpo à Altitude. No entanto, embora não tenha escalado cumes mantive-me sempre bastante activa e trabalhei com 10 turmas e no extra-escola até às 39 semanas de gravidez (pari às 42). Posso-te relatar que lá pró final da gravidez, quando já estava mais insuflada, com pouco apetite e com umas hipoglicémias à mistura, a minha motivação desceu um bocadinho e passei apenas a fazer umas caminhadas, a subir escadas e a fazer umas brincadeiras com o papá.
Como já te disse cada gravidez é única e desde que uses de bom senso, escutes o teu corpo (sim... daqui a pouco começas a levar com cada pontapé) e sejas bem acompanhada "tudo é possível".
P.S: A "Alcagoita" tem direitos de autor (hihihi... a minha ex-Alcagoita dorme profundamente)
Pois é... Obrigado amiga. Como sabes quando se passa por este estado somos constantemente assoladas por dúvidas existenciais. Tudo o que não queremos é por em risco o ser que geramos dentro de nós.
ResponderEliminarOlá Rute!!
ResponderEliminarDei uma espreitada no teu Blog tá um espectáculo!!
O ano passado passei pelo mesmo que tu, embora que na altura da pré-época estivesse mais barriguda que tu lol lol já acompanhava os estágios nos bastidores lol também fiz maratonas de BTT já grávida sem saber e continuei a treinar, a fazer aulas de spinning, corrida e condição física e piscinas a pouco e pouco baixando o ritmo. Depois de a bárbara nascer tive um tempo sem fazer quase nada, toda a atenção do mundo para ela!!Depois foi conciliar as coisas, organizar os nossos horários e dá tempo para tudo, por vezes é complicado não tendo com quem a deixar!!!O tempo passa a voar ela já faz 10 meses, aproveita ao máximo todos os momentos que são maravilhosos!Já integrei os estágios com vocês que é uma grande alegria para mim treinar e voltar às competições, por vezes cansada pois continuo a dar de mamar e ela ocupa-nos muito tempo!!Muitas felicidades o importante é te sentires bem contigo mesma. Há que lutar e sacrificar-nos pelo que mais gostamos é o mais importante, por vezes aparecem estes imprevistos lol lol mas continuamos a lutar :) :)
Vim aqui deixar o meu testemunho como colega e tua Amiga. És para mim fonte de motivação para treinar e um modelo não só como atleta mas como Mulher. Julguei que iria perder uma companheira de treino mais cedo do que eu pensava mas afinal ganhei foi mais um! É para mim um enorme prazer e orgulho treinar contigo e dar-te um "belo tratamento", como tu aliás bem gostas ;)
ResponderEliminarPronta p'rá coça deste fim de semana?
Bora lá!!!!
I feel good...na,na,na,na,na,na,na...
Olá, Rute!
ResponderEliminarGostei muito do seu blog. Estou tentando engravidar e gosto muito de praticar exercícios. Faço musculaçao, nataçao, RPM e kick-boxing. Nos fins de semana ando de bicicleta ou caminho em montanhas. E tenho procurado bastante informaçoes na internet que possam me ajudar pela dúvida dos exercícios durante a gravidez. Gostei muito do que você escreveu e concordo plenamente. Acho que cada pessoa tem que ir vendo como o seu corpo reage e fazer os exercícios de acordo ao limite de cada um. Parabéns, atleta! Você vai me servir de inspiraçao!
Elisa R. Vieira, Tegucigalpa, Honduras
Sem dúvida uma inspiração para qualquer Mulher!!
ResponderEliminarDei com este blog porque também eu ando à procura de informação sobre prática desportiva e gravidez. Também eu já tive uma gravidez inviável e, na altura, associei à prática do ciclismo. Este ano já estou com bom ritmo (treino com malta do planeta masculino:))e como também ando a treinar para o bebé e estando perto dos 35, tenho receio de que as coisas voltem a correr mal.
Mas depois de ler a tua experiência...sem palavras!! Vou continuar a acompanhar a equipa enquanto puder!